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#ESPECIALUFU45

Entre o esperar e a esperança

Contornando as dificuldades, a universidade resiste e acredita em dias melhores

Publicado em 10/03/2023 às 08:45 - Atualizado em 22/08/2023 às 17:04

Foto: Fernanda Torquato

 

O educador Paulo Freire, patrono da Educação brasileira, em uma célebre frase, afirma que “é preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera”. Nesses seis anos de implementação da política de Teto de Gastos, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) tem sobrevivido com menos recursos do que o necessário, porém fazendo o que é possível para continuar cumprindo seu compromisso com o Ensino, a Pesquisa, a Extensão e a Assistência Estudantil.

Na série especial #UFURESISTE - Seis anos do Teto de Gastos a Conexões, em colaboração com a Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mostrou como a universidade vem contornando os diversos problemas enfrentados desde a aprovação da Emenda Constitucional 95, em 2016. Ouvimos pró-reitores e estudantes, diretamente envolvidos nas principais atividades ligadas ao funcionamento da UFU. Não foi surpresa observar que a situação se agravou ao longo dos últimos anos. Mas também foi admirável perceber como a crise uniu diferentes segmentos no esforço para garantir que a universidade não pare. E identificar que há um sentimento comum entre pessoas tão diversas: a esperança de que a situação possa se reverter.

Hélder Eterno da Silveira, titular da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc), espera que, ainda que gradualmente, a UFU consiga restabelecer o orçamento que tinha em 2015, ano anterior à implementação da medida de austeridade fiscal, e lamenta os riscos corridos nos últimos anos. “Se a gente conseguir resgatar, pelo menos em valores corrigidos, o orçamento da universidade, teremos um respiro maior. E nós vamos fazer bastante movimentação para que isso aconteça, sob pena de a universidade ter interrompido ações muito importantes no Ensino, Pesquisa e Extensão”, afirmou para a Conexões.

O pró-reitor alerta, ainda, que esses cortes no orçamento implicaram na ausência de recursos importantes para um bom funcionamento da gestão. Ele menciona o impacto nas bolsas de Extensão, de Cultura, de Assistência e na sobrevivência da universidade. Mesmo com esse cenário, Silveira não deixa de confiar que há, sim, como reverter a situação. “A gente acredita que essas coisas vão ser revertidas nesses próximos tempos, tem que manter a esperança para que isso aconteça. Não só esperança, mas a luta também”, sintetiza.

Com o início de um novo governo, quem também espera mudanças nos rumos que a Educação brasileira vem tomando é o titular da Pró-Reitoria de Planejamento e Administração (Proplad), Darizon Alves de Andrade. Ele comentou, em entrevista exclusiva à Conexões, sobre a tensão e expectativa das universidades em relação ao futuro: “Na imprensa a nova gestão tem manifestado que é necessária recomposição orçamentária. Está muito recente ainda, mas nós temos expectativa de que haja uma melhora no orçamento”. Andrade, acrescenta que, se houver melhorias no orçamento, a UFU poderá retomar as diversas ações que deixaram de ser realizadas em decorrência da situação atual.

Outro problema que surge com o descaso em relação à Educação é a falta de estímulo para que os estudantes se insiram na Ciência, como relata o titular da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propp), Carlos Henrique de Carvalho, em entrevista para a Conexões. Carvalho define a diferença entre “esperar” e “esperança”, sendo a esperança aquilo que se espera com ação para que aconteça. O pró-reitor acredita que o dano causado só poderá ser revertido em décadas, colocando a esperança (aquela com ação) na melhoria do quadro ainda em 2023.

Mesmo acreditando em um cenário otimista, ainda paira pelo ar a preocupação dos gestores da UFU com o que o futuro reserva. “Na mudança de governo, uma das promessas que foram feitas foi o compromisso de olhar as universidades e as escolas e isso nos enche de esperança de um funcionamento normal das instituições. Mas, sem os aportes orçamentários necessários, a universidade está em situação de risco”, reafirma Silveira.

Destacando a possibilidade de diálogo como tranquilizante, a titular da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil, Elaine Saraiva Calderari, também acredita nas possibilidades de melhoria gradual do cenário. “Restabelecemos o canal de diálogo com o Ministério da Educação (MEC), o que já acalma um pouco as nossas angústias, pois entendemos que a interlocução é fundamental para buscarmos as soluções de forma conjunta, mas também para o gerenciamento de crises”, afirmou, em entrevista à Conexões.

O sentimento de esperança, que sustenta a luta, também move acadêmicos da UFU. Uma das coordenadoras do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Amanda de Castro destaca que a expectativa vai muito além da questão orçamentária. Em entrevista à Conexões, Castro ressalta: “Acredito também que [2023] seja um ano de reconstrução da Educação, um ano de mudança de olhar. Fazer da Educação um espaço de liberdade que abraça outros corpos, outras pessoas, que jamais sonharam estar onde podem estar”.

Há necessidade de investimento na Educação, na Ciência e na Pesquisa, mas também de valorização das universidades públicas, seus estudantes e profissionais, por toda a sociedade. A crise da Educação brasileira, como ressaltou Darcy Ribeiro, há mais de quatro décadas, é um projeto, que precisa ser combatido e superado. Somente quando o Ensino Público for abraçado e defendido por toda a sociedade, os poderes públicos de todos os níveis poderão valorizá-lo como bem comum.

A UFU é um patrimônio da sociedade de Uberlândia e região, responsável por uma série de organismos e ações que beneficiam a comunidade, e precisa ser valorizada como tal. Valorização necessária, especialmente, porque nos últimos seis anos, a instituição não ficou parada, esperando. Ao contrário, assumindo as premissas de Freire, foi à luta. Afinal, como conclui o patrono, “esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…”.

 

Uma das expectativas de melhoria envolve o estímulo para que os estudantes se insiram na Ciência. (Foto: Milton Santos)

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.

 

A série "ESPECIALUFU45" reúne textos escritos por membros da equipe da Diretoria de Comunicação Social (Dirco), mas também está aberta à contribuição de outros integrantes da comunidade acadêmica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). As sugestões de temas a serem abordados, bem como o envio de materiais para avaliação e, em caso de aprovação, posterior publicação, podem ser realizados por meio do formulário eletrônico disponível em: www.comunica.ufu.br/divulgacao.

 

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